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Pandemia impacta saúde mental de magistrados

22 de Fevereiro de 2021 às 10h00

As mudanças de hábito surgidas na pandemia do novo coronavírus tiveram impacto na saúde mental de magistrados e servidores do Poder Judiciário. É o que aponta a pesquisa “Saúde mental de magistrados e servidores no contexto da pandemia da COVID-19” realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O levantamento mostra que a pandemia contribuiu para agravar os casos de ansiedade e de depressão, que já estariam altos no Brasil. Do total de entrevistados, 47,8% declararam se sentir mais cansados do que antes da pandemia; 42,3% tiveram piora no humor e 48% tiveram alteração na rotina do sono.

O sentimento mais citado entre magistrados e servidores foi o medo, atingindo 50% dos que responderam a pesquisa. O levantamento contou com a participação de 46.788 magistrados e servidores, que responderam ao questionário de forma voluntária, anônima e sigilosa entre os dias 1º e 15 de julho de 2020.

Outros sentimentos frequentes verificados foram: desânimo, comum em mais de 36% dos participantes, e piora no humor, com 53%. Quase 17% dos que responderam ao questionário disseram ter pensamentos negativos e 25% revelaram ter sentimentos de raiva ou melancolia. Ao mesmo tempo, também foram citados sentimentos positivos, como serenidade (14%) e otimismo (16%). Também houve quem revelasse que os últimos meses foram de afloramento da gratidão (33%), vontade de ajudar (33%) e esperança (30%).

O presidente da Amagis, desembargador Alberto Diniz, ressaltou que a pesquisa se faz especialmente relevante, pois permitirá a utilização dos resultados na elaboração de políticas locais. “A preservação da saúde tem sido uma política constante de todos os Poderes da República. É fundamental que tenhamos dados para embasar ações que possam garantir as condições seguras de trabalho para magistrados e servidores, pois, assim, estaremos protegendo não apenas os integrantes do Judiciário, mas toda a sociedade”, destacou Alberto Diniz.

Medo e insegurança

O novo coronavírus, causador da Covid-19, traz consigo um risco invisível, que se esconde em todos os lugares e pode infectar qualquer um, a qualquer momento. Esse cenário faz com que, constantemente, os mecanismos de defesa do cérebro sejam ativados, o que traz reflexos agressivos à saúde mental.

O psiquiatra Octávio Saliba, médico integrante do Programa Amor à Vida, da Amagis Saúde, explicou que o ser humano, quando percebe um risco de perder o controle do seu destino e da sua integridade física, reage com intenso estresse emocional. E a pandemia veio acompanhada por uma incerteza enorme com relação à natureza da doença, rapidez do contágio e ausência de um tratamento seguro e eficaz. “A partir do momento que o indivíduo tem consciência de que a vida dele está em perigo, reage de forma intensa, gerando sensações como angústia, ansiedade e medo.

Aliada a isso, a condução da solução para essa pandemia no Brasil não foi bem organizada. A falta de uniformidade nas condutas de isolamento social e cuidados com a prevenção da doença foram muito contraditórios, com viés politizado, o que contribuiu para amplificar essa sensação de insegurança”, avaliou Octávio Saliba. O médico tem visto em seu consultório uma explosão de distúrbios psiquiátricos relacionados à pandemia. Segundo ele, irritabilidade e ansiedade excessivas, insônia, crises de pânico, alterações bruscas de humor, choro frequente, tristeza duradoura, dificuldade para realizar tarefas habituais e incapacidade de sentir alegria ou prazer passaram a ocorrer com maior frequência e intensidade nesse período. Além disso, houve um aumento expressivo do consumo de álcool, drogas ilícitas e psicofármacos e de casos de automutilação, principalmente entre jovens. “Estamos em um país depressivo. Perdemos o hábito saudável da rotina. As atividades de trabalho e estudo foram abruptamente alteradas. Os atritos familiares são constantes. O nível de estresse está altíssimo”, disse Octávio Saliba.

De acordo com o médico Danylo Radael, proprietário da Clínica InCentro, em Belo Horizonte, quando vivemos em um ambiente carregado de tensão, sair do momento presente é muito fácil. Com isso, deixamos de estar plenamente conscientes do que fazemos e passamos para um estado reativo, oprimidos pelo que ocorre ao nosso redor. “A ansiedade existe quando a pessoa foca sua atenção no futuro. A angústia existe quando pessoa foca a atenção no passado. E o presente tem sido deixado de lado”, observou Danylo Radel.

A pesquisa do CNJ mostrou que 44,3% dos entrevistados também notaram uma mudança de peso durante a pandemia. Segundo o psiquiatra Octávio Saliba, é esperado que isso aconteça porque não há mais válvulas de escape como o lazer e a interação social. “O sentimento de frustração pela imprevisibilidade da duração da pandemia e a perda de pessoas queridas pela doença estão nos colocando sem nenhuma forma de gratificação e de prazer. Nesse contexto, o ser humano busca as gratificações mais fáceis. Comer em excesso é uma delas”, afirmou o especialista.

Doenças crônicas

O levantamento questionou ainda magistrados e servidores sobre os maiores temores em razão das mudanças nas condições de vida causadas pela Covid-19. A maioria dos entrevistados informou ter medo de que os familiares pertencentes ao grupo de risco possam adoecer ou falecer (79,1%). Já 64,6% deles disseram ter receio de ficarem doentes. Esse medo de contrair o coronavírus tem feito com que portadores de doenças cônicas, como diabetes e hipertensão, suspendam os tratamentos por medo de se contaminar.

O médico Danylo Radael tem orientado os pacientes a não interromperem os acompanhamentos e a buscarem um estilo de vida saudável, mesmo com as limitações impostas pela pandemia. “A doença crônica, se bem controlada, faz com que a pessoa dê uma atenção maior para sua saúde e busque a medicina de maneira preventiva. A duração da pandemia já é muita longa para o indivíduo negligenciar os cuidados com a saúde. Portanto, cada um deve olhar para si e ver por onde é mais fácil mudar o estilo de vida. É buscar uma mudança de cada vez”, orientou o profissional.

Amagis Saúde

A vice-presidente de Saúde da Amagis, juíza Rosimere das Graças do Couto, ressaltou que a Amagis e a Amagis Saúde têm desenvolvido uma série de ações para minorar os impactos da pandemia na saúde de seus associados. Entre as iniciativas destacadas estão o credenciamento de novos profissionais na rede da Amagis Saúde, a oferta de mais consultas com psicólogos na telemedicina,o atendimento personalizado do psiquiatra Octávio Saliba para os associados, veiculação de entrevista com o psiquiatra em programas de TV da Amagis e publicação de artigos e entrevistas nas mídias sociais com outros especialistas como geriatra, dermatologista e fisioterapeuta sobre as consequências da pandemia na saúde física e mental da população. “A Amagis Saúde, no decorrer do ano de 2020 e ainda agora, tem dado um atendimento especial e humanizado ao associado e seus dependentes, de forma ágil e eficaz, ajudando-os na busca de soluções mais adequadas e seguras para prevenção e preservação da saúde neste momento tão difícil pelo qual todos nós estamos passando”, disse Rosimere Couto.

Volume de trabalho

Na Justiça Estadual mineira, 60% dos magistrados que participaram da pesquisa do CNJ disseram realizar suas atividades de forma integral via trabalho remoto. Para 37% dos entrevistados, o volume de trabalho está maior que no período anterior à pandemia e 57% têm dedicado mais horas do dia para o trabalho remoto. O esforço de juízes, desembargadores e servidores tem se refletido nos altos índices de produtividade do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). No entanto, a produtividade e o trabalho saudável não podem ser elementos dissociáveis e exigem investimentos conscientes.

Uma das primeiras iniciativas do TJMG tão logo se confirmou a pandemia foi adequar o modelo de trabalho remoto para magistrados e servidores, de forma que todos tivessem as melhores condições de desempenhar suas atividades. O coordenador do Comitê Gestor de Atenção Integral à Saúde de Magistrados e Servidores do TJMG e superintendente de Saúde do Tribunal, desembargador Bruno Terra Dias, destacou que o Judiciário mineiro tem desenvolvido programas de atendimento permanente à saúde de seus magistrados e de servidores.

No caso específico da pandemia de Covid-19, o TJMG realiza atividades de coleta de informações, orientação, providências diversificadas e acompanhamento de casos e reporta as informações ao presidente, desembargador Gilson Soares Lemes, propondo medidas apropriadas para o momento. “Os impactos da pandemia são sentidos não apenas em forma de modernização, mas igualmente em afecções de saúde física e mental de magistrados e servidores. Não há, ainda, como formular um juízo definitivo daquilo que constituirá a herança nosológica desses tempos, mas é sabido que o quadro de complicações derivadas do momento pandêmico promete durar alguns anos, o que exige mais da administração do TJMG e das entidades classistas das carreiras envolvidas”, disse Bruno Terra Dias.

Segundo o superintendente de Saúde do Tribunal, esse quadro de anormalidade sanitária mostra que a pandemia deixará sequelas diversas, mesmo em quem não contrair a doença, uma vez que toda a população está submetida a níveis de estresse muito elevados e por lapso de tempo prolongado.

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