Pediatra alerta para cuidados na convivência de crianças com animais domésticos
Ter um animal de estimação pode ajudar uma criança saudável a aumentar a autoestima, se sentir meno sozinha e desenvolver habilidades sociais. É o que diz um estudo da Universidade de Liverpool, publicado em março deste ano no International Journal of Environmental Research and Public Health (Jornal Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública). Segundo a pesquisa, enquanto brinca com o seu bichinho, a criança desenvolve a coordenação motora, descobre o que é ser responsável, aprende a conviver socialmente e a tratar um outro ser vivo com respeito e dedicação. No entanto, para essa convivência ser a melhor possível, alguns cuidados são importantes.
É importante verificar se a raça do animal é adequada
para a idade da criança
O pediatra Paulo Roberto Carvalho, credenciado à Amagis Saúde, lembra-se até hoje do dia em que, ainda criança, levou uma mordida na mão ao separar a briga de suas duas cachorras. “Uma grande preocupação é quando o animal doméstico não está familiarizado com aquela criança, que é de um familiar ou um vizinho, por exemplo. Como médico, já atendi vários casos de mordidas, inclusive no rosto”, conta.
Por isso, a recomendação é observar sempre se o animal apresenta sinais de agressividade, principalmente se for adotado ou recolhido da rua. Nesse caso, o ideal é que o bichinho seja levado ao veterinário para ser vacinado e vermifugado e, depois, que seja observado no quintal ou na área de serviço por uns dias, antes de começar a conviver diretamente com a criança.
O animal de estimação precisa estar com as vacinas em dia
e vermifugado corretamente
Outra dica é, antes de comprar um animal, verificar o tipo de comportamento que aquela raça apresenta, se convive bem com crianças e se o porte é adequado à faixa etária daquela criança. Gatos em geral não são ciumentos. O problema é que eles conseguem entrar com facilidade no berço, por isso, é aconselhável colocar um protetor com elástico para evitar que ele machuque o bebê.
“Apesar de alguns defenderem que não existe animal violento, mas bichos que foram tratados com violência, um animal de grande porte pode derrubar uma criança, machucá-la ao pular em cima dela e arranhá-la, mesmo que esteja somente brincando. Temos que ter em mente que a realidade de muitas crianças é viver em apartamentos pequenos, às vezes, acompanhadas apenas pela babá ou empregada doméstica”, afirma o pediatra.
Fezes contaminadas de gatos são causadoras de toxoplasmose
O especialista sugere esperar até a criança completar três ou quatro anos para, aí sim, curtir a companhia de um bichinho de estimação, já que a partir dessa faixa etária ela passa a ter mais autonomia, habilidades motoras, uma certa capacidade de se defender e entender que não pode subir no animal ou puxar as orelhas dele. “Em qualquer situação, o mais importante é nunca deixar o animal sozinho com a criança, principalmente se ele for de grande porte”, alerta o médico.
Asma e alergia
Crianças pequenas que têm um cachorro em casa têm menor probabilidade de desenvolver asma, segundo estudos científicos. O fato de ficar exposto a um cachorro no primeiro ano de vida estaria ligado a uma queda no risco de desenvolver asma durante a infância. No entanto, Paulo Roberto Carvalho esclarece que, se a criança já é alérgica, adquirir um cachorro não vai curá-la da alergia, pelo contrário, pode até agravar o quadro.
Aves, como papagaios, podem transmitir psitacose
Na maioria das vezes, a irritação surge por causa da saliva dos gatos e dos ácaros presentes no ambiente, por conta de penas e pelos dos bichos. Para não ter alergia, é fundamental evitar o contato com as secreções, lavar bem as mãos após brincar com os animais e retirar o acúmulo de pele e pelos soltos na casa. Outra medida, segundo o especialista, é colocar o animal para dormir no quintal ou na área de serviço, evitando assim que ele tenha um contato mais próximo e frequente com a criança. “Banhos regulares em gatos e cães também podem diminuir os riscos de reação alérgica. Aspirar o ambiente e filtros de ar podem eventualmente ajudar. Não existe uma raça de cães à prova de alergia, mas são aconselháveis as que soltam menos pelo”, esclarece o médico.
Principais doenças transmitidas por animais de estimação
Toxoplasmose - pode ser adquirida pela ingestão de água e/ou alimentos contaminados com os oocistos esporulados, presentes nas fezes dos gatos que tenham os cistos do protozoário Toxoplasma gondi. Pode passar despercebida, mas em alguns casos surgem sintomas parecidos com os da gripe, como dor de cabeça e coriza, dor no corpo, febre, fadiga e dor de garganta. Em pacientes com sistema imunológico comprometido podem surgir sintomas mais graves. Alterações oftalmológicas podem ocorrer. No caso da toxoplasmose congênita, bebês podem ter aumento do baço, convulsões, alterações oculares importantes, entre outros sintomas. De tão importante, essa doença é pesquisada durante o pré-natal e no teste do pezinho.
Larva migrans cutânea ou bicho geográfico - pode ser transmitida por cães e gatos infectados com ancilostomídeos. É comum em praias e terrenos arenosos contaminados pelas fezes desses animais. As crianças contaminam-se ao brincar nesses locais. A penetração da larva na pele pode passar despercebida. Às vezes, forma uma pápula pequena, avermelhada ou várias, se o solo estiver intensamente contaminado. Depois de alguns dias, surgem os túneis característicos por baixo da pele, de 2cm a 5cm, formando desenhos caprichosos e pruriginosos (causam coceira). Pode desaparecer após semanas ou durar meses. Com o tratamento adequado, temos uma cura mais rápida.
Raiva humana - deve ser mencionada para, segundo o pediatra, alertar sobre a importância da vacinação. É importante vacinar todo ano os animais. A raiva é uma doença provocada por vírus, com sintomas neurológicos graves. Pode ser transmitida por cão, gato e rato, por meio da mordida ou lambida da mucosa ou pele lesionada por animais raivosos. O aparecimento dos sintomas após o contato com o animal raivoso pode demorar dias ou anos. Já o período de incubação dura até três meses. Os sintomas da doença são salivação excessiva, convulsão, sensibilidade exagerada no local da mordida, excitabilidade, perda de sensibilidade, perda da função muscular, febre baixa, espamos musculares, agitação, ansiedade e dificuldade para engolir. A criança deve ser vacinada dependendo do tipo e do local da mordida e da possibilidade de observar ou não o animal.
Dermatomicose - até 30% dos casos conhecidos também como "tinha" humana em áreas urbanas foram associados a contato direto com cães e gatos. Os proprietários dos animais devem lavar bem as suas mãos após contato com os animais infectados e não permitir que as crianças brinquem com os bichos até que eles estejam curados. A doença apresenta sintomas como queda de cabelo, vermelhidão e descamação da pele. As lesões são circulares, circunscritas, com diâmetro de 1cm a 3cm e podem ter uma crosta acinzentada ou amarronzada. As manifestações clínicas ocorrem geralmente na cabeça, pescoço e períneo e, caso não seja iniciado um tratamento adequado, podem se alastrar para outras regiões do corpo. O período de incubação varia de uma a quatro semanas.
Psitacose - doença transmitida por aves como papagaio. A transmissão é por via respiratória, por meio da aspiração de poeira contaminada pelos dejetos de animais doentes ou portadores da doença. A transmissão respiratória de pessoa para pessoa pode acontecer, mas é um evento raro e ocorre somente na fase aguda da doença. Os sintomas característicos são febre, prostração, tosse, dor de cabeça e calafrios, acompanhados de comprometimento das vias aéreas superiores e inferiores. Essa infecção geralmente é leve ou moderada no homem adulto, é rara em crianças e mais grave em idosos que não recebem o tratamento adequado.
Pulgas e ácaros de sarna - a sarna canina e felina e as pulgas têm um grande potencial zoonósico. A dermatose associada a pulgas ou ácaros de sarna em seres humanos é geralmente autolimitante, mas pode voltar se o animal não for curado ou se não for feita a higiene adequada do ambiente.
Leishmaniose visceral ou calazar – pode causar comprometimento hematológico grave e até ser confundida com doenças hematológicas. A leishmaniose é uma doença sistêmica, com febre de longa duração, perda de peso, perda ou diminuição da força física e muscular, anemia e outras manifestações. Quando não tratada, pode evoluir para óbito. A transmissão se dá por meio da mordida de mosquito que pica o animal infectado e, posteriormente, o ser humano.
* O pediatra Paulo Roberto Carvalho é credenciado à Amagis Saúde
**O plano de saúde da Amagis conta com profissionais e clínicas especializadas. Acesse o link “Rede Credenciada” no site. A cobertura dos procedimentos segue recomendações da Agência Nacional de Saúde (ANS).